terça-feira, 29 de março de 2022

Que tipo de fé ter? Por Frei Gilvander

 Que tipo de fé ter? Por Frei Gilvander Moreira[1]

Considerando o que diversos marxistas e a Teologia da Libertação compreendem sobre a questão religiosa e como lidar com a dimensão religiosa, podemos enunciar alguns pontos imprescindíveis para reflexão e práxis sobre a questão religiosa na luta pela terra, pela moradia e por outros direitos humanos fundamentais. Primeiro, em todas as religiões e suas igrejas enquanto instituições é hegemônica a tendência conservadora que resulta em líderes religiosos, sejam eles padres, pastores ou similares, cúmplices do poder político e econômico da ordem estabelecida. No caso das sociedades capitalistas, são cúmplices das opressões perpetradas pelo capitalismo e pelos capitalistas. E os funcionários das religiões e igrejas se beneficiam do poder também. Segundo, na origem do cristianismo, no baixo clero e atualmente em uma minoria de padres, pastores e leigos/as adeptos da Teologia da Libertação há, sim, compromisso com as causas de emancipação das classes trabalhadora e camponesa. Terceiro, o peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930) tem razão ao buscar aproximar os cristãos libertários e os marxistas socialistas, pois há, sim, algum tipo de fé nas pessoas militantes revolucionárias. Não está ainda demonstrado historicamente que com a superação das relações sociais do capital e da exploração humana, quando o ser humano tiver a história nas mãos, não haverá mais necessidade de expressões religiosas. Em Cuba, por exemplo, parte do povo cubano é religioso, frequenta igrejas, mesmo sendo socialistas comunistas. Quarto, se nossa preocupação maior é pedagógica, ou seja, como lutar, caminhar e marchar rumo à emancipação humana, nos parece um erro tático grave não lidar de forma emancipatória com a dimensão religiosa das/os trabalhadoras/es e dos/as camponesas/es. Ignorar ou contestar a dimensão de fé das pessoas com discursos racionais joga mais água no moinho das igrejas e correntes religiosas conservadoras, reacionárias, espiritualizantes e moralizadoras. “Parece muito provável que a revolução social em nosso continente – aliás, como a história tem provado – conte em suas fileiras com companheiros que professam alguma religião, assim como qualquer um pode ter a religião que lhe interessar ou não ter nenhuma” (IASI, 2011, p. 146-147). Sem a participação do povo que frequenta as igrejas (neo)pentecostais e os estádios de futebol não teremos luta revolucionária que nos leve à emancipação humana. Em Havana, no triunfo da revolução cubana, Fidel Castro, ao discursar dia 1º de janeiro de 1959, “dizia da fé que sempre teve no povo de Cuba, que era, em suas palavras, mais que uma fé, uma confiança” (IASI, 2011, p. 152). Fé no sentido bíblico não é crença em dogmas e doutrinas, mas trata-se de coragem e confiança existencial em si mesmo, nas/os companheiras/os e em um mistério maior que nos envolve. Quando, por diversas vezes, nos relatos de milagres nos evangelhos da Bíblia se coloca na boca de Jesus: “Tua fé te salvou”, não se está querendo afirmar nenhuma crença em dogmas e doutrinas, mas está se afirmando uma postura existencial de coragem e confiança na luta pessoal, comunitária ou coletiva de que é possível superar os problemas por maiores que pareçam. ‘Fé na luta!’, digamos como dizem as/os militantes do MST, dos Movimentos Sociais e as/os agentes das pastorais sociais.

Antônio Julio de Menezes Neto corrobora nossa interpretação de Marx relativo à questão religiosa, ao ponderar: “Marx realiza uma crítica concreta, baseada em estudos acerca de relações sociais e econômicas históricas e, não, uma crítica abstrata da religião” (MENEZES NETO, 2012, p. 28). A Comissão Pastoral da Terra (CPT), pela sua práxis, realiza uma espécie de ‘religiosização da política’, conforme afirma Cândido Grzybowski: “A religiosização de categorias políticas se exprime no uso político de símbolos cristãos, como a cruz nos acampamentos, e na realização de atos religiosos com fins políticos, como missas, romarias da terra, etc.” (GRZYBOWSKI, 1987, p. 68).

Como explicitação concreta da perspectiva religiosa questionada por Karl Marx, corroborando podemos citar o seguinte episódio: um cozinheiro dos frades carmelitas em Houston, Texas, nos Estados Unidos, nos disse, em agosto de 1997: “Sou latino-americano, mas participei da guerra do Vietnã defendendo os Estados Unidos e Deus”. Enquanto nos narrava sua experiência na guerra do Vietnã, ele retirou do bolso uma nota de dólar, mostrou-nos e disse: “Está escrito aqui “we trust in God” (= nós acreditamos em Deus). Lá no Vietnã era a guerra entre o mundo ateu e o mundo crente, a guerra entre Deus e o demônio. Estávamos lá defendendo não apenas os Estados Unidos, mas Deus. Queríamos evitar que os ateus comunistas e o mal tomassem conta do mundo”. Ao ouvir isso, boquiaberto, entendemos que ao se declarar teoricamente ateu, o ‘socialismo real’ traiu a filosofia de Karl Marx, pois entregou um argumento de ouro aos capitalistas que, ateus na prática, se sentem defensores de Deus na terra, mas na realidade são arautos de um ídolo: o deus capital/mercado.

As necessidades materiais são o que ‘dá mais liga’ para a coesão interna entre os Sem Terra ou Sem Teto em uma ocupação até a conquista da terra. O cultivo dos valores de uma fé libertadora, segundo a Teologia da Libertação, tem certo grau de fôlego para sustentar a perseverança na luta pela terra, pela moradia e por outros direitos humanos fundamentais na perspectiva de um projeto socialista. No Brasil e na América Latina, com um povo religioso, é impossível fazer revolução socialista sem a Bíblia interpretada considerando os oprimidos da história e ignorando a dimensão de fé das pessoas, mas fé libertadora no Deus que age nas entranhas da história, que combina a fina flor da filosofia de Marx com a fina flor da Teologia da Libertação. A fé, em si mesma é algo ambíguo, pode emancipar ou explorar. No fundo, não basta ter fé. Depende que tipo de fé se cultiva. A questão central não é ter ou não ter fé, mas que tipo de fé ter ou não ter. Importa incorporar uma fé emancipadora como instrumento que pode levar à conscientização do valor da vida, a não submissão às condições de opressão, pois de tanto obedecer adquire-se reflexos de submissão. Trata-se de ter a fé de Jesus Nazaré e não apenas ter fé em Jesus.

Referências.

GRZYBOWSKI, Cândido. Caminhos e Descaminhos dos Movimentos Sociais no Campo. Petrópolis: Vozes/FASE, 1987.

IASI, Mauro Luis. Ensaios sobre consciência e emancipação. 2ª edição. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

MENEZES NETO, Antonio Júlio de. A Ética da Teologia da Libertação e o Espírito do Socialismo no MST. Belo Horizonte: UFMG, 2012.

29/3/2022.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – Filme PEDRA EM FLOR, de Argemiro Almeida, 1992. CEBs e Leitura Popular da Bíblia. Frei Carlos Mesters

2 - Retomada Indígena Xukuru-Kariri - Comunidade indígena Arapoã Kakyá -, em Brumadinho, MG – Vídeo 1

3 - Veja a Comunidade indígena Arapoã Kakyá (Retomada Indígena Xukuru-Kariri), Brumadinho/MG – Vídeo 2

4 - “Quando pomos pé num território somos raiz forte.” Arapoã Kakyá Xukuru-Kariri Brumadinho/MG – Vídeo 3

5 - “A terra é nossa mãe; nós, os filhos dela”. Comunidade indígena Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG–Vídeo 4

6 - Frei Carlos Mesters: CF/22 -Fraternidade e Educação. “Fala com sabedoria, ensina com amor”(Pr 31,26)

7 - Curso Teologias da Libertação para os nossos dias – Aula 02. Por Marcelo Barros - 29/7/2020

8 - COMUNIDADE, FÉ E BÍBLIA, Carmo Vídeo, 1995. Roteiro: Frei Carlos Mesters, Frei Gilvander e Argemiro

9 - "Paulo em Gálatas: Que tipo de fé liberta?" - Para o Mês da Bíblia/2021 - Frei Gilvander -13/8/2021



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com , www.brasildefatomg.com.br , www.revistaconsciencia.com , www.racismoambiental.net.br e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br       –       www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III

 

terça-feira, 15 de março de 2022

Religião é utopia gigante? Por Frei Gilvander

 Religião é utopia gigante? Por Frei Gilvander Moreira[1]


O filósofo Antonio Gramsci (1891-1937) foi um dos primeiros marxistas que tentou entender o papel contemporâneo da Igreja e o peso da cultura religiosa sobre as massas populares. Admirador do socialista cristão francês Charles Péguy, Gramsci escreve: “Lendo Nossa Juventude, de Péguy, embebedamo-nos com esse sentimento místico religioso do socialismo, de justiça que impregna tudo. […] Sentimos em nós uma nova vida, uma crença mais forte, afastada das ordinárias e miseráveis polêmicas dos pequenos e vulgares políticos materialistas” (GRAMSCI apud LOWY, 2007, p. 308). Em Cadernos do Cárcere, Gramsci reconhece a dimensão utópica das ideias religiosas: “A religião é a utopia mais gigante, a mais metafísica que a história jamais conheceu, desde que é a tentativa mais grandiosa de reconciliar, em forma mitológica, as reais contradições da vida histórica. Afirma, de fato, que o gênero humano tem a mesma ‘natureza’, que o homem […] como criado por Deus, filho de Deus, é, portanto, irmão de outros homens, igual a outros e livre entre e como outros homens [...]; mas também afirma que tudo isto não pertence a este mundo mas sim a outro (a utopia). Desta forma, as ideias de igualdade, fraternidade e liberdade entre os homens […] estiveram sempre presentes em cada ação radical da multidão, de uma ou outra maneira, sob formas e ideologias particulares” (GRAMSCI, 1999, p. 205).

Tendo como experiência concreta o fenômeno religioso da Igreja Católica na Itália nas primeiras décadas do século XX, Gramsci entendeu também a diferenciação interna na igreja – atualmente, podemos dizer nas igrejas – segundo uma variedade ideológica e também segundo as diferentes classes sociais: “Toda religião [...] é realmente uma multiplicidade de distintas e, às vezes, contraditórias religiões: há um catolicismo para os camponeses, um para a pequena burguesia e trabalhadores urbanos, um para a mulher, e um catolicismo para intelectuais” (GRAMSCI, 1999, p. 115). O mesmo texto bíblico lido em igrejas de periferia, de bairro nobre ou em um acampamento ou assentamento de reforma agrária é interpretado de formas muitas vezes até contraditórias.

No Brasil, atualmente, podemos dizer parodiando Gramsci que há um tipo de igreja para os bairros nobres, outro tipo para a pequena burguesia e outro para o povo de periferia. E há, como referido acima, as igrejas (neo)pentecostais que com grande inserção nos meios midiáticos usam e abusam do nome de Deus para surrupiar muito dinheiro do povo aflito encurralado pelas injustiças sociais. Isso se faz via teologia/ideologia da prosperidade com missas e cultos de cura, privatizando a fé e reduzindo Deus a um quebra galho para resolver problemas pessoais que são frutos da superexploração promovida pelo capitalismo.

De forma semelhante a Engels, o marxista Ernst Bloch, ao analisar o fenômeno religioso,  distinguiu duas correntes sociais opostas: uma religião ópio do povo e outra subversiva. “Por um lado, a religião teocrática das Igrejas oficiais, ópio dos povos, um aparelho mistificador a serviço dos capitalistas; por outro, a secreta, subversiva e herética religião dos albigenses, husitas, de Joaquim de Flores, Thomas Munzer, Franz von Baader, Wilhelm Weitling e Leon Tolstoi” (BLOCH apud LOWY, 2007, p. 310).

Se fosse hoje, Bloch provavelmente citaria expoentes da teologia da libertação, tais como Rubem Alves, Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, José Comblin, Tomás Balduíno, Pedro Casaldáliga, Hugo Assmann, frei Betto, Marcelo Barros, Benedito Ferraro, Jon Sobrino, Carlos Mesters, Pablo Richard etc. Porém, diferentemente de Engels, Bloch reconhece que a religião pode veicular uma consciência utópica, pela sua força crítica e antecipadora. “Em suas manifestações contestadoras e rebeldes, a religião é uma das formas mais significativas de consciência utópica, uma das expressões mais ricas de O Princípio Esperança. Através de sua capacidade de antecipação criativa, a escatologia judaico-cristã – universo religioso favorito de Bloch – contribui para dar forma ao espaço imaginário do ainda não-existente” (BLOCH apud LOWY, 2007, p. 310).

O filósofo e sociólogo marxista Lucien Goldmann (1913-1970) propõe a renovação dos estudos marxistas da religião. Ele fala em crença religiosa e crença marxista: “Ambas têm em comum o rechaço do puro individualismo (racionalista ou empirista) e a crença em valores trans-individuais – Deus para a religião, a comunidade humana para o socialismo. Em ambos os casos, a crença está apoiada em uma aposta – a aposta pascaliana na existência de Deus e a marxista na libertação da humanidade – que pressupõe o perigo do fracasso e a esperança do êxito” (LOWY, 2007, p. 311).

O que separa os cristãos socialistas e os socialistas ateus é o caráter supra-histórico da transcendência religiosa: “A crença marxista é uma crença no futuro histórico que o ser humano cria por si mesmo, melhor dizendo, que devemos fazer com nossa atividade, uma “aposta” no êxito de nossas ações; a transcendência de que é objeto esta crença não é nem sobrenatural nem trans-histórica, mas sim supraindividual, nada mais, mas tampouco nada menos” (GOLDMANN apud LOWY, 2007, p. 312).

Os adeptos da Teologia da Libertação acreditam na força humano-divina e intra-histórica e não em um Deus extra-história. Não há transcendência em contraposição à imanência, terreno das relações humanas, mas há transdescendência, que é o divino no humano e em toda a biodiversidade. “O espírito (ruah, em hebraico) de Deus está nas águas” (Gen 1,2). O sopro divino (ruah) “agitava, revolvia, sagazeava, bailava, tocava, acariciava, abraçava, envolvia, chocava” as águas. Javé respirava nas águas. Namorava as águas, talvez possamos dizer. Trata-se de algo intimamente ligado às águas. Agitava de dentro para fora. Ruah e água não são duas realidades. Trata-se da mesma realidade sob ângulos diferentes. São “carne e unha”, inseparáveis. Em Gênesis 1,2b “água” é símbolo da realidade. Tudo é água, pois água está em todo ser vivo. Logo, não podemos entender água apenas no sentido físico. O autor bíblico quer dizer que o espírito de Deus está em tudo, permeia e perpassa tudo. Em tudo está uma aura de divino, de sagrado. Existe água não só nos rios, mas em tudo há água, em todos os corpos, em todos os seres vivos. A terra é um grande ser vivo, chamada por muitos de Gaia. Todos os seres vivos integram, mantendo identidades próprias, em uma grande sinfonia, o ser maior: o planeta Terra. Pelo exposto, compreendemos Religião como utopia gigante, porém com concretização dos mais variados jeitos e até contraditórios, às vezes.

Referências.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Vol. I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

LOWY, Michael. Marxismo e religião: ópio do povo?. In: A teoria marxista hoje. Problemas e perspectivas. Buenos Aires: CLACSO, p. 298-315, 2007.

15/3/2022.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – Vale viola direito de ir, vir e de assistência espiritual. Xukuru-Kariri, em Brumadinho/MG. Vídeo 9

2 - Frei Gilvander X Seguranças da Vale S/A e Educação Indígena Xukuru-Kariri, em Brumadinho/MG. Vídeo 7

3 - Retomada Indígena Xukuru-Kariri - Comunidade indígena Arapoã Kakyá -, em Brumadinho, MG – Vídeo 1

4 - Veja a Comunidade indígena Arapoã Kakyá (Retomada Indígena Xukuru-Kariri), Brumadinho/MG – Vídeo 2

5 - “Quando pomos pé num território somos raiz forte.” Arapoã Kakyá Xukuru-Kariri Brumadinho/MG – Vídeo 3

6 - “A terra é nossa mãe; nós, os filhos dela”. Comunidade indígena Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG–Vídeo 4

7 - "Temos direito de (r)existir. Morro na luta." Cacique Merong na Mesa/MG, Kamakã Mongoió/Brumadinho

8 - Dom Vicente: “Precisamos de 1 índio/a na Presidência. Onde tem índio tem floresta.” Xukuru. Vídeo 12


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com , www.brasildefatomg.com.br , www.revistaconsciencia.com , www.racismoambiental.net.br e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br       –       www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III

  

quarta-feira, 9 de março de 2022

Rosa Luxemburgo na luta das Mulheres: e os cristãos? Por Frei Gilvander

 Rosa Luxemburgo na luta das Mulheres: e os cristãos? Por Frei Gilvander Moreira[1]


Dia 08 de março de 2022, Dia Internacional de Luta das Mulheres. Por que e para quê?  

          Primeiro, temos que dizer que todo dia é dia da mulher, mas o mês de março é especialmente o Mês das Mulheres. Na União Soviética, ainda antes da Revolução Soviética de 1917, mulheres camponesas fizeram muitas lutas por terra, pão e liberdade, o que fez eclodir a Revolução socialista de 1917, e nas repúblicas socialistas soviéticas, todo ano, o dia 08 de março passou a ser celebrado como o Dia Internacional das Mulheres. Nos Estados Unidos tentaram apagar essa história e inventaram uma falsa história que diz ser o dia 8 de março como tendo sido iniciado por mulheres trabalhadoras estadunidenses, o que não é verdade. A maior homenagem que uma mulher pode receber é respeito, admiração e amor. “Não só flores, mas respeito”, exigem as mulheres. “Não apenas nos deseje “feliz dia”. Levante-se e lute conosco!”, bradam as mulheres lutadoras. Sugiro a leitura do nosso artigo “Mulheres na luta sempre, na Bíblia e hoje” em www.gilvander.org.br .[2]

Segundo, precisamos ouvir o que a filósofa Rosa Luxemburgo (1871 a 1919) analisou e denunciou sobre a postura da Igreja na sociedade. No ensaio O socialismo e as igrejas, de 1905, Rosa Luxemburgo defende que os socialistas modernos são mais próximos dos princípios originais do cristianismo e o clero conservador da atualidade, não. Eis algumas afirmações eloquentes de Rosa Luxemburgo para nossa análise: “Desde que os socialistas lutam por uma ordem social de igualdade, liberdade e fraternidade, os padres, se honestamente quisessem implementar na vida da humanidade o princípio cristão “ama ao próximo como a ti”, deveriam dar as boas-vindas ao movimento socialista. [...] Quando o clero apoia o rico, e aqueles que exploram e oprimem o pobre, estão em contradição explícita com os ensinamentos cristãos: servem não a Cristo, mas sim ao Bezerro de Ouro e ao chicote que açoita os pobres e indefesos. [...] A flagrante contradição entre as ações do clero e os ensinamentos do cristianismo deve ser matéria de reflexão para todos nós. [...] De acordo com a situação material dos escravos, os primeiros cristãos fizeram a proposta da propriedade em comum – o comunismo. [...] Os cristãos dos primeiros séculos eram comunistas fervorosos. Mas era um comunismo baseado no consumo de bens acabados e não no trabalho, e demonstrou-se incapaz de reformar a sociedade, de pôr fim à desigualdade entre os homens e de derrubar as barreiras que separavam os pobres dos ricos” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 112-115).

Segundo Rosa Luxemburgo, os socialistas discordam dos primeiros cristãos comunistas, pois dizem: "não queremos que os ricos compartilhem seus bens com os pobres: não queremos caridade nem esmola; nada disso pode apagar a desigualdade entre os homens. O que exigimos não é que os ricos dividam com os pobres, mas que não haja ricos e pobres” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 116-117). Rosa aponta uma ingenuidade metodológica na proposta das primeiras comunidades cristãs, narrada na Bíblia, no livro de Atos dos Apóstolos: “Os primeiros cristãos acreditavam poder remediar a pobreza do proletariado com as riquezas dispensadas pelos possuidores. É o mesmo que pegar água com um coador” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 117)! Ao fazer uma contundente retrospectiva histórica do cristianismo e da igreja, Rosa Luxemburgo reconhece que as primeiras comunidades cristãs, originárias basicamente do seio dos escravos, cultivavam significativa fidelidade ao projeto do evangelho de Jesus de Nazaré. E também na época da Patrística, denunciando as injustiças sociais, os Pais da Igreja prosseguira, no entanto, a luta contra esta penetração da desigualdade social no seio da comunidade cristã, fustigando aos ricos com palavras ardentes e exortando-os a voltarem ao comunismo dos primeiros Apóstolos” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 117).

Rosa Luxemburgo fez questão de citar alguns dos Pais da igreja - Basílio, João Crisóstomo e Gregório Magno - como mentores de uma espécie de comunismo dos primeiros cristãos. “São Basílio, no Século IV depois de Cristo, predicava assim contra os ricos: "Infelizes, como os justificarei perante o Juiz Celestial? Vós me perguntais: ‘Qual é a nossa culpa, se só guardamos o que nos pertence?’ E vos pergunto: ‘Como conseguistes o que chamais vossa propriedade? Como se enriquecem os possuidores se não é tomando posse das coisas que pertencem a todos? Se cada um tomasse apenas o que necessitasse e deixasse o resto para os demais, não haveria ricos nem pobres" (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 117).

Na mesma linha proclamava também João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla. No século VI, Gregório Magno exortava as comunidades cristãs: “Quando dividimos com os que sofrem, não lhes damos o que nos pertence, mas o que lhes pertence. Não é um ato de compaixão, mas o pagamento de uma dívida” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 118).

Entretanto, constata Rosa Luxemburgo que “as condições econômicas resultaram mais poderosas do que os mais belos discursos. Na Idade Média, enquanto a servidão reduzia o povo trabalhador à pobreza, a Igreja enriquecia-se cada vez mais” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 119), cobrando dízimo obrigatório no valor de 10% sobre a renda e sobre as propriedades de quem possuía. Além disso, outros impostos e inúmeras doações e testamentos eram recebidos pela igreja. As doações para a igreja provinham de “libertinos ricos de ambos os sexos que à beira da morte queriam pagar por sua vida pecaminosa. Entregavam à Igreja dinheiro, casas, aldeias inteiras com os seus servos e a renda de terra e os impostos em trabalho (corveia)” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 119).

Rosa Luxemburgo fez muitas outras análises demonstrando que, ao longo da história e no início do século XX a Igreja se caracterizava por atuar sustentando o poder opressor e beneficiando-se dele. Mais algumas colocações de Rosa Luxemburgo são importantes serem aqui fixadas. Por exemplo: “Quando o proletariado do campo e da cidade se levantava contra a opressão e a servidão, encontrava no clero um inimigo feroz. É certo que no seio da Igreja existiam duas classes: o clero superior, que absorvia toda a riqueza, e a grande massa de padres rurais com modestos recursos. Essa classe sem privilégios se insurgia contra o clero superior, e, em 1789, durante a Grande Revolução, uniu-se ao povo para lutar contra o poder da nobreza secular e eclesiástica. [...] O socialismo não é a generosidade dos ricos para com os pobres, mas a abolição total da diferença entre ricos e pobres, obrigando todos/as a trabalhar segundo sua capacidade mediante a abolição da exploração do homem pelo homem” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 120 e 122).

Rosa Luxemburgo encontrou motivos para ser veemente na crítica aos padres: “Estes Judas caluniam quem desperta a consciência de classe. [...] Quando os padres usam o púlpito como meio de luta política contra a classe operária, os operários devem combater os inimigos de sua libertação, usem batina ou farda” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 123-124).

Dessa forma, Rosa Luxemburgo compreende o proletariado socialista em luta revolucionária como um movimento que aproxima o Evangelho de Jesus Cristo da fraternidade social e defende a igualdade substantiva de todos a partir dos/as injustiçados/as, e chama as pessoas a estabelecerem na terra o Reino da Liberdade e do Amor ao Próximo. Sigamos na luta pela superação do sistema capitalista ao lado das mulheres de luta, admirando-as, aprendendo com elas e acima de tudo respeitando-as, pois elas estão doando suas vidas na construção de uma sociedade sem exploração, com liberdade e fraternidade real para todos/as.

Referências.

 LÊNIN, Vladimir Ilitch. O Socialismo e a Religião [1905]. In:   https://www.novacultura.info/post/2021/03/17/lenin-socialismo-e-religiao  

08/3/2022.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Verdades que precisam ser ditas em Betim/MG. “O negócio do Medioli é destruir”. Mulher de coragem!

2 - Três mulheres de luta: “O justo é NÃO DESPEJAR a Ocupação Cidade de Deus, de Sete Lagoas/MG”–24/5/21

3 - Presença e atuação das Mulheres na Bíblia. Emancipação ou opressão? Diferentes leituras – 05/03/2021

4 - Margareth da padaria, em Santa Rita de Caldas, sul de MG: mulher imprescindível! 08/9/2019

5 - "Sem medo de ser mulher" e Cruz do Compromisso na IV Romaria/Águas/Terra/Bacia/rio Doce. Vídeo 10

6 - Mulheres guerreiras do MLB no V Congresso Nacional do MLB em Recife. Vídeo 6 - 13/9/2019

7 - Anita Santos, mulher negra, luz para o povo da Ocupação Anita Santos, BH, MG. Vídeo 3. 26/7/2019

8 - Luta contra Racismo/Violência contra as Mulheres/Opressão do Capital. "Uni-vos!" (Frei Gilvander)

9 - Carliusa Kiriri, mulher guerreira: "O nosso lugar é aqui!"(Caldas/MG) - Vídeo 6 - 27/1/2019.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com , www.brasildefatomg.com.br , www.revistaconsciencia.com , www.racismoambiental.net.br e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br       –       www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III

 

[2] http://gilvander.org.br/site/mulheres-na-luta-sempre-na-biblia-e-hoje-por-frei-gilvander/ 

quarta-feira, 2 de março de 2022

Religião: jugo ou libertação? Por Frei Gilvander

 Religião: jugo ou libertação? Por Frei Gilvander Moreira[1]

O político e teórico marxista Karl Kautsky (1854-1938) considerava todas as correntes religiosas subversivas, as que protestavam contra a ordem estabelecida, como movimentos “precursores do socialismo moderno”, cujo objetivo era um estilo de comunismo distributivo – oposto ao comunismo produtivo do movimento operário moderno (Cf. LOWY, 2007, p. 304). Kautsky entende Tomas More, autor de Utopia, como um defensor da classe camponesa que estava tendo suas terras expropriadas pela reforma protestante na Inglaterra. “Segundo Kautsky, Tomas More, autor de Utopia, escolheu como religião o catolicismo em lugar do protestantismo porque estava contra a brutal proletarização do grupo de camponeses resultante da destruição da Igreja tradicional e da expropriação de terras comunitárias pela Reforma Protestante na Inglaterra. Por outro lado, as instituições religiosas da ilha Utopia mostram que estava longe de ser um partidário do autoritarismo católico estabelecido: defendia a tolerância religiosa, a abolição do celibato clerical, a eleição de padres por suas comunidades e a ordenação de mulheres” (KAUTSKY apud LOWY, 2007, p. 305).

Questões religiosas defendidas por Tomas More na Utopia também são defendidas por vários teólogos/as da Teologia da Libertação com algumas pequenas diferenças: o ecumenismo como proposta de respeito religioso, a abolição do celibato clerical obrigatório – o celibato deve ser opcional -, a eleição de padres, bispos e até do papa pelas comunidades cristãs e o fim da ordenação sacerdotal de homens para ficar valendo apenas o sacerdócio comum conferido pelo batismo ou a ordenação sacerdotal de mulheres, proposta defendida por uma tendência do Movimento Feminista da Teologia da Libertação. Isso é necessário para a superação do patriarcalismo na Igreja Católica.

No contexto de religião conservadora atrelada aos interesses do Estado e dos senhores feudais do início do século XX na Rússia, no artigo “Socialismo e religião”, de 1905, Lênin compreendeu a religião como uma “névoa mística” e defendeu que religião seja um assunto privado e que as igrejas não podem se imiscuir no Estado e nem na Educação. “A religião é uma das formas de opressão espiritual que pesa em toda a parte sobre as massas populares. [...] A impotência das classes exploradas na luta contra os exploradores gera tão inevitavelmente a fé numa vida melhor além-túmulo como a impotência dos selvagens na luta contra a natureza gera a fé em deuses, diabos, milagres, etc.” (LÊNIN [1905], 2012, p. 1).

Em consonância com o materialismo histórico-dialético, Lênin entende que é a exploração causada pelo modo de produção capitalista que gera a religiosidade nas pessoas. A/o trabalhador/a esfolada/o aqui na terra, sem conseguir fazer a história com as próprias mãos, acaba por projetar uma vida feliz além-morte, acreditar em forças fora de si, em milagres no sentido de acontecimentos que desrespeitem as leis da natureza. Mas, Lênin reconhece que somente combater ideologicamente a expressão religiosa das pessoas ou ignorá-las seria um equívoco tático grave e uma contradição com o método do materialismo histórico-dialético, o qual diz que enquanto não acontecer a superação das relações sociais impostas pelo capital, relações sociais escravocratas, várias ideologias estarão sendo criadas, entre elas a ideologia religiosa. A esse respeito diz Lênin: “Seria estreiteza burguesa esquecer que o jugo da religião sobre a humanidade é apenas produto e reflexo do jugo econômico que existe dentro da sociedade. Não é com nenhum livro e nem com nenhuma propaganda que pode-se esclarecer o proletariado se não o esclarecer a sua própria luta contra as forças do capitalismo” (LÊNIN [1905], 2012, p. 4).

Mas, em tom tático, Lênin defendeu que o ateísmo não deveria ser parte do programa do Partido Comunista porque a “unidade na real luta revolucionária das classes oprimidas por um paraíso na terra é mais importante que a unidade na opinião proletária sobre o paraíso no céu” (LÊNIN [1905], 2012, p. 4).

No calor da primeira revolução soviética, em 1905, interessada em formar a consciência de milhões de trabalhadores russos e poloneses que estavam se engajando na luta socialista revolucionária, Rosa Luxemburgo, mesmo sendo ateia, percebeu a necessidade de mostrar à classe trabalhadora como as igrejas enquanto instituições eram reacionárias e portadoras de exploração implacável. Percebendo que não deveria alimentar discussão filosófica em defesa do materialismo histórico-dialético para criticar as igrejas, Rosa Luxemburgo, vendo que os padres “convertem a igreja e o púlpito num lugar de propaganda política” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 112) contra os operários socialistas revolucionários que lutavam pela superação do capital e pela derrubada do czarismo na Rússia, Rosa busca resgatar a dimensão social original subversiva do cristianismo. Rosa Luxemburgo reconhece “a consciência e as opiniões pessoais como sendo sagradas. Todo homem pode ter aquela fé e as ideias que ele acredita sejam fonte de felicidade. Ninguém tem o direito de perseguir ou atacar os demais por suas opiniões religiosas” (LUXEMBURGO [1905], 2002, p. 112).

A dimensão religiosa é uma das dimensões que integram a condição humana. Não é a religião em si que gera jugo ou libertação, mas as pessoas que, para atender seus interesses próprios, sua sede de poder, a usam para dominar, explorando a fé do povo, ou para, em comunhão, na luta coletiva, à luz da Palavra de Deus na Bíblia e na realidade, buscar caminhos de transformação e libertação. Portanto, há muitas formas de acolher ou não e de lidar com a dimensão espiritual da vida. Ao longo da história da humanidade, muitos tipos de religiosidade têm sido usados como armas de violência sutil que legitimaram grandes massacres e genocídios. Entretanto, outros modelos de religiosidade têm impulsionado ao longo da história processos de luta pela superação de opressões e explorações. Tenhamos a grandeza de cultivar nossa dimensão espiritual conectada com as lutas por Justiça, por direitos humanos e sociais. Assim Jesus Cristo testemunhou e nos ensinou. Que nossa dimensão religiosa seja instrumento de humanização e libertação e não jugo que oprime, explora e mata.

Referências.

 LÊNIN, Vladimir Ilitch. O Socialismo e a Religião [1905]. In:   https://www.novacultura.info/post/2021/03/17/lenin-socialismo-e-religiao  

LOWY, Michael. Marxismo e religião: ópio do povo?. In: A teoria marxista hoje. Problemas e perspectivas. Buenos Aires: CLACSO, p. 298-315, 2007.

02/3/2022.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Retomada Indígena Xukuru-Kariri - Comunidade indígena Arapoã Kakyá -, em Brumadinho, MG – Vídeo 1

2 - Veja a Comunidade indígena Arapoã Kakyá (Retomada Indígena Xukuru-Kariri), Brumadinho/MG – Vídeo 2

3 - “Quando pomos pé num território somos raiz forte.” Arapoã Kakyá Xukuru-Kariri Brumadinho/MG – Vídeo 3

4 - “A terra é nossa mãe; nós, os filhos dela”. Comunidade indígena Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG–Vídeo 4

5 - Frei Carlos Mesters: CF/22 -Fraternidade e Educação. “Fala com sabedoria, ensina com amor”(Pr 31,26)

6 - Curso Teologias da Libertação para os nossos dias – Aula 02. Por Marcelo Barros - 29/7/2020

7 - COMUNIDADE, FÉ E BÍBLIA, Carmo Vídeo, 1995. Roteiro: Frei Carlos Mesters, Frei Gilvander e Argemiro

8 - "Paulo em Gálatas: Que tipo de fé liberta?" - Para o Mês da Bíblia/2021 - Frei Gilvander -13/8/2021




[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com , www.brasildefatomg.com.br , www.revistaconsciencia.com , www.racismoambiental.net.br e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br       –       www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III